Um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento infantil é a saúde bucal.
Os dentes de leite saudáveis permitem que as crianças mastiguem e são essenciais para o desenvolvimento de seus ossos maxilares, garantindo que haja espaço suficiente para que os dentes permanentes fiquem bem posicionados.
É importante que as crianças sejam introduzidas precocemente às visitas aos dentistas – A primeira visita ao Odontopediatra deveria acontecer ainda na gestação da mãe. Caso isso não seja possível, ela deve ocorrer o quanto mais breve! Sim, antes mesmo dos primeiros dentes. Isso pode ajudar a reduzir a ansiedade sobre ir ao dentista e também permitir que possamos monitorar o desenvolvimento craniofacial da criança.
Orientações sobre hábitos de higiene e cuidados são direcionados aos pais.
Os dentes permanentes começam a nascer quando as crianças têm entre 6 e 7 anos. É importante que as crianças sejam acompanhadas regularmente nesta fase para detectar diversos problemas como os defeitos de desenvolvimento dos dentes, hoje tão comum nos consultórios de odontopediatria. Não distante estão os problemas de dentes que nascem fora de posição, as faltas de germe de dentes permanentes, cárie, desgastes de dentes entre outros. Visitas regulares desde bebê ao odontopediatra significam detecção precoce e, quando anormalidades ou cáries são detectadas precocemente, o tratamento pode ser mínimo e menos invasivo.
Também fazemos avaliação e tratamento ortodôntico em crianças pequenas, ainda na dentição decídua se necessário. Isso é chamado de ortopedia interceptativa e baseia-se na filosofia de intervenção precoce para minimizar a necessidade de tratamento ortodôntico extensivo em anos posteriores.
Odontologia para gestante e bebê: uma visão além dos dentes
Por muito tempo as visitas ao dentista durante a gestação aconteciam somente em casos de urgência visto que o tratamento odontológico poderia trazer risco à gestante e bebê.
Diferente do que acontecia no passado, além do exame clínico e a realização de procedimentos curativos, o mais importante nesta consulta são as informações e orientação que a gestante recebe.
Já sabemos que durante a gestação a mulher está mais receptiva a aprender e as informações passadas nesta consulta são mais absorvidas. Sendo assim, no pré natal odontológico, o Odontopediatra tem a oportunidade de desmistificar crendices diversas gerando um efeito muito positivo na saúde e desenvolvimento do bebê.
Dentre as alterações sistêmicas na gravidez destacamos as hormonais que modificam a fisiologia da cavidade bucal podendo causar sangramentos e intensificar inflamações levando à doença periodontal. Diversos estudos relatam que o processo infeccioso da doença periodontal pode causar pré-eclampsia, trabalho de parto prematuro e baixo peso do bebê ao nascimento. A causa estaria relacionada a liberação de citocinas inflamatórias liberadas pelo periodonto (tecidos e ossos onde os dentes estão inseridos) que caem na corrente sanguínea, ultrapassam a barreira placentária e estimulam a contração uterina podendo levar ao trabalho de parto prematuro.
Sabemos que nesta fase, muitas mulheres enjoam inclusive com o gosto dos cremes dentais. O aumento dos enjoos e vômitos alteram o ph da cavidade bucal e podem provocar sensibilidade nos dentes e até aparecimento de doença cárie.
Hoje existe um novo foco das consultas com a Dra. Gisele direcionado ao desenvolvimento do bebê. A avaliação de exames de ultrassonografia podem nos dar vários indícios importantes durante crescimento craniofacial do feto. Uma posição intrauterina desfavorável ao longo da gestação, como os bebês pélvicos, podem impactar no sucesso da amamentação. A observação dos movimentos de deglutição do feto, podem indicar uma possível anquiloglossia (língua presa) no bebê. Um bebê que faz sucção de dedo ou uma mão na face que se alonga por semanas, pode causar assimetrias facias. Todos são exemplos de o que podemos observar e assim fazer as devidas orientações às futuras mamães.
Na nossa consulta pré-natal a Dra. Gisele pede para virem todos que estarão envolvidos com o bebê: pai, avós e cuidadores. As instruções oferecidas nesse momento, ajudarão a rede de apoio da mãe a ter sucesso na amamentação, tão crucial para saúde e desenvolvimento do bebê. Então falamos de chupetas, mamadeiras, alimentação, respiração e claro, por fim, os dentes.
E se meu bebê já tiver nascido? Quando ir ao Odontopediatra?
Assim que possível.
Ainda temos uma cultura de que a primeira visita ao dentista deve acontecer bem depois que todos os dentes nascerem, lá pelos 4 anos de idade da criança. Porém nossa recomendação atual é que a primeira visita ao odontopediatra aconteça ainda nos primeiros dias de vida do bebê. Hoje não falamos somente sobre os dentes: discursamos sobre o desenvolvimento craniofacial do bebê que começa na amamentação e na coordenação de todo complexo de músculos que envolvem todo sistema estomatognático: respiração, sucção, deglutição e posteriormente a mastigação. Desta maneira podemos prevenir não somente as assimetrias facias e problemas de maloclusões como problemas respiratórios, asmas, apneia, bruxismo…
Dra. Gisele costuma dizer que quando o bebê nasce, o pediatra está ocupado em avaliar o bebê como um todo. Nós Odontopediatras temos o papel de avaliar as funções relacionadas a boca, ensinar e direcionar as famílias a observar o bom desenvolvimento desse complexo sistema.
Por que fazer uma consulta do bebê com o Odontopediatra ainda antes dos dentes nascerem?
Sabemos que quando um bebezinho nasce, nasce também uma mãe com muitas dúvidas sobre cuidados materno-infantis. Conceitos vividos em gerações anteriores precisam ser atualizados. As preocupações com a possibilidade de se desenvolver a cárie, hoje, dá lugar a uma imensidão de informações sobre o desenvolvimento craniofacial da criança. Uma visão muito além de dentes.
O número de bebês com diagnóstico de anquiloglossia parece ter aumentado. Mas será mesmo?
Alguns pesquisadores atribuem isso a introdução nas maternidades de testes obrigatórios de avaliação da língua. O teste da linguinha acontece hoje como o teste do pezinho, do olhinho, do ouvidinho…. Então a atenção se voltou muito para a língua quando aparecem as primeiras dificuldades na amamentação.
De fato a amamentação, ao meu ver, é muito romantizada. Parecendo ser sempre maravilhoso, mas na prática na grande maioria das vezes não é.
É esperado que as primeiras semanas sejam de ajustes para toda família com a presença desse novo membro que chega. Infelizmente muitos pais colocam muita expectativa na liberação de freio cirúrgica.
Ao longo dos últimos anos venho estudando a fundo sobre freios e seus impactos no desenvolvimento da criança. Me especializei no assunto depois que meu filho caçula nasceu com anquiloglossia e teve um desfecho complicado no pós cirúrgico e eu não consegui salvar a amamentação.
Você tá querendo dizer que talvez não devêssemos operar? Não! Uma língua presa deve ser corrigida o quanto antes!
Mas para se operar, precisamos preparar o bebê para isso. Como?
Com uma equipe transdiciplinar. Consultora de amamentação, pediatra, fono, osteopata e odontopediatra.
A mãe precisa consultar com uma especialista em amamentação para se ajustar a pega peito-boca.
Saber que hoje preconizamos que por mais ou menos 3 meses o bebê vai precisar de acompanhamento com Fonoaudiologista. Ele precisa ser preparado antes e depois da cirurgia. Alguns bebês tem disfunções. São incoordenações dos músculos todos envolvidos no processo de mamar, sugar, deglutir e respirar…
Entender que o bebê não pode fazer uso de mamadeira ou chupeta durante o período de cicatrização…
Realizar exercícios diários conforme a orientação de fono e odontopediatra.
Não desistir! Afinal, todo esforço visa garantir a amamentação, tão importante no desenvolvimento de todas funções relacionadas a deglutição, respiração, mastigação.
Também deve consultar um fisioterapeuta especialista em bebês (um osteopata de preferência) para observar se não existem tensões importantes que possam estar interferindo na amamentação, porque interferem e muito.
Depois disso, se a cirurgia for indicada, aí operamos.
O que vemos hoje na prática é que muitos bebês acabam precisando mesmo é de muito manejo com fono e menos cirurgia…
Mas aqueles freios visivelmente muito preso na ponta da língua que até o leigo vê, esses não tem como fugir de cirurgia mesmo, em? É pelo bem do bebê de um modo muito mais amplo do que conseguimos imaginar.
Qual o momento certo de operar?
Hoje pensamos que o ideal seria que a cirurgia aconteça entre 1 e 3 meses de vida do bebê. Antes de 1 mês ainda é cedo para entender o tamanho do impacto, como está a saúde do bebê, se a produção de leite está boa… E por que antes 3 meses? Na verdade quanto mais perto da fase de introdução alimentar, pior. Entre 6 meses e 1 ano de idade, hoje evitamos cirurgia para não interferir no processo de alimentação, evitando a chamada “aversão oral”.
Quanto maior o bebê, mas desconfortável pode ser para ele, ser operado.
Em caso de crianças maiores, pode ser necessário uma intervenção já a nível hospitalar pela dificuldade de estabilização e cooperação da criança.
“Não desista!”
Uma rede de apoio (pai, avós, cuidadores, amigos) ajuda bastante. Afinal, todo esforço visa garantir a amamentação, tão importante no desenvolvimento de todas funções relacionadas a deglutição, respiração, mastigação.
Ao longo das últimas décadas, vários estudos foram elaborados avaliando a percepção de atratividade, beleza, inteligência e até competência das crianças em diversas faixas etárias.
Como resultado, percebe-se que embora a princípio possa parecer um absurdo, especialistas evidenciaram que as crianças fisicamente mais bonitas, são consideradas por elas mesmas, muito mais competentes, inteligentes e mais agradáveis do que crianças consideradas menos bonitas.
E o que se entende por ser bonita ou não?
Muitas das características que fazem uma face parecer pouco atrativa ou pouco bonita, tem a ver com deformidades dento-faciais ou com um desenvolvimento facial inadequado. Deformidades podem ser congênitas ou são adquiridas nas fases iniciais do crescimento infantil.
Para que aconteça um bom desenvolvimento craniofacial, é preciso que todas as funções do sistema estomatognático – sucção, mastigação, deglutição, fonoarticulação e respiração- estejam sendo efetivos.
Desde a o nascimento, é preciso acompanhar e tratar qualquer função que não esteja funcionando corretamente. Por exemplo, garantir que a amamentação seja eficiente e prolongada por pelo menos os primeiros 6 meses da vida do bebê. Se certificar que as funções de sucção, deglutição e respiração sejam coordenadas e adequadas. Estimular a mastigação vigorosa de alimentos fibrosos e bilateral, ou seja a língua trabalha para jogar a comida para os dois lados da boca para ser triturada.
Muitos recém-nascidos apresentam a “rinite no lactente”, que pode deixar o bebê com o nariz obstruído, forçando-os a respirar pela boca. Essa respiração oral pode inclusive virar um hábito. Muitos dos primeiros problemas de saúde infantil são de origem respiratória e podem começar com a respiração pela boca. Sinusites, amigdalites, faringites, bronquiolites… A respiração nasal filtra o ar, protegendo o organismo da entrada de micro-organismos patogênicos. Todas esse mal funcionamento das funções, provocam a instalação das maloclusões.
A maloclusão acontece quando existe uma relação anormal do encaixe dos dentes e ossos onde eles estão inseridos. Os distúrbios craniofaciais afetam a estética da face promovendo desproporções e assimetrias que estão intimamente relacionadas a uma face de pouca atratividade. A desarmonia facial interfere no bem-estar psicológico e na qualidade de vida da criança de forma ampla.
Segundo alguns estudos da minha pesquisa, os pais têm dificuldades em perceber as deficiências estéticas dos seus filhos por fatores emocionais, por desinformação ou mesmo falta de tempo. Como consequência, esses pais acabam procurando tratamentos um tanto quanto tarde, tornando a correção muito complexa ou improvável.
Em todas pesquisas, entendemos que os responsáveis reconhecem a necessidade de
promover qualidade de vida para seus filhos. E que os aspectos estéticos da face de uma criança, são sim muito importantes.
E o que podemos fazer para prevenir problemas no desenvolvimento craniofacial facial da criança?
Algumas análises defendem que crianças que são acompanhadas desde cedo por um dentista, tem menores riscos de desenvolver problemas dentários e estéticos na face, do que as que só procuram um profissional somente quando os dentes estão desalinhados ou com atividade de cárie.
Ajudar a criança a alcançar seu melhor potencial de harmonia facial depende muito de um correto diagnóstico realizado por profissionais. A informação infelizmente ainda não é ampla. É preciso que mais e mais famílias sejam educadas a se conscientizar da importância do diagnóstico e tratamento precoce e dos benefícios para seus filhos através de visitas a profissionais como o odontopediatra e ortodontista logo nos primeiros anos de vida.